Índios yanomami comemoram 20 anos de homologação

Em assembleia realizada na aldeia Watorini, no Amazonas divisa com Roraima, indígenas discutiram sobre temas como garimpo ilegal

20 de Outubro de 2012
ELAÍZE FARIAS

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Em assembleia realizada na aldeia Watoriki, na região do município de Barcelos (a 399 quilômetros de Manaus), divisa dos Estados do Amazonas e Roraima, aproximadamente 700 indígenas comemoraram os 20 anos da homologação da terra indígena yanomami. O evento, iniciado no último dia 15, será encerrado neste sábado (20), com a divulgação de uma carta com os principais itens levantados durante as discussões.

Junto com a comemoração de uma luta de 25 anos que resultou na homologação, os indígenas yanomami debateram sobre problemas que os afetam há muitos anos e que vêm se agravando nos últimos tempos. Um dos mais preocupantes é a ação ilegal de garimpo em suas terras.

O líder da aldeia, Davi Kopenawa, em declaração ao jornal A Crítica, que esteve na aldeia nesta semana, destacou que os indígenas também são contra a regulamentação da exploração do garimpo em suas terras, porque esta prática vai provocar, na sua avaliação, conflito na população e traz prejuízos ao meio ambiente, aos recursos naturais e à saúde dos yanomami. A regulamentação vem sendo debatida atualmente no Congresso Nacional.

Kopenawa também acusou o governo brasileiro de querer facilitar a regulamentação da exploração mineraria em terras indígenas para entregá-las a empresas estrangeiras e a outros governos.

Sobreposição


Outro problema destacado é a sobreposição de unidades de conservação nas terras dos yanomami. Na região de Maturacá, no Estado do Amazonas, por exemplo, onde vive população yanomami, a área também é uma área de preservação, o Parque Nacional do Pico da Neblina.

Mas o governo federal planeja criar uma nova unidade de conservação em outra área da TI Yanomami. O mesmo projeto também faz parte do planejamento do governo do Amazonas.

Armindo Góes Melo, yanomami que vive em Maturacá, disse que a sobreposição de terras tira a autonomia dos indígenas e provoca conflitos na gestão. “A gente não pode desenvolver nenhuma ação, receber nenhum visitante de fora, porque tem que pedir do ICMBio”, disse. ICMBio é sigla de Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão ambiental responsável pela gestão das unidades de conservação federais.

Convidados

A assembléia na aldeia Watoriki contou com a presença de aproximadamente 40 não-indígenas. Entre os visitantes estavam funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) que atuam em Boa Vista (RR) e instituições de financiamento que apóiam a associação Hutukara (entidade representativa dos yanomami), como a Rainforest Foundation, da Noruega. A ong Survival Internacional, organização mundial que apóia os povos indígenas de vários países, foi representada por Fiona Watson, uma das mais atuantes atividades em favor dos direitos dos yanomami no Brasil.

Floresta

A aldeia Watoriki está localizada no meio da floresta amazônica e também é rodeada de montanhas. Seu nome é uma referência à montanha cujo nome em português significa serra do vento. A população é estimada em 150 pessoas, que vivem conjuntamente dentro de uma maloca.

Durante a assembleia, os moradores de Watoriki receberam yanomami de outras aldeias residentes no Amazonas em Roraima, que foram participar do evento para debater sobre a situação da etnia na atualidade.

De acordo com o Censo 2010 do IBGE, a terra indígena mais populosa do país é a yanomami, com 25,7 mil habitantes. A população indígena mais populosa, contudo, é a tikuna, que também vive no Amazonas, com 46 mil pessoas. No Brasil, a extensão do território homologado dos yanomami é de 9 milhões de hectares. Na Venezuela, também há população de yanomami.