Encontro do Xamãs na TIY

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A comunidade Watoriki da Terra Indigena Yanomami, região Demini, municipio de Barcelos está promovendo um grande encotro dos Xamãs Yanomami, que esta sendo realizado nos dias 21 a 24 de março de 2011. Liderado por Davi Kopenawa Yanomami, Presidente da Hutukara Associação Yanomami-HAY. Esse encotro estima-se reunir com 30 xamãs Yanomami das regiões Demini, Auaris, Ajuricaba, Surucucu, Xitei, Toototobi, Balawau, Novo Demini, Waputha, Missão Catrimani e Alto Catrimani. O foco maior desse encotro e nas questões de Mudanças Climáticas e Aquecimento Global .

Assessor de imprensa: Mauricio Yekuana

Contato: 095 3224 6767 e 095 9154 5841

Evento: Encontro com professores no Centro da Cultura Judaica em São Paulo

Evento: Encontro com professores no Centro da Cultura Judaica em São Paulo
Exposição de fotografias do livro da Claudia Andujar "Marcados"; editora Cosac Naify, 2009.


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Neste evento realizado pelo Centro da Cultura Judaica de São Paulo os professores serão convidados a visitarem à exposição da Claudia Andujar e a participar da mesa de discussões sobre o histórico do contato entre os Yanomamis e os não índios, as consequencias desse contato através de questões do passado e da atualidade. Claudia Andujar irá falar sobre sua vida, seu contato com os Yanomami e a origem da série "Os Marcados", Eduardo Brandão falará das ideias por trás da exposição e dissertar sobre a trajetória histórica da série "Os Marcados".  Dário e Mauricio irão discursar sobre a situação atual, a organização política e as perspectivas dos Yanomamis e Yekuanas.

Circunstâncias, por Claudia Andujar
[abertura do livro Marcados; Cosac Naify, 2009]

1944
Aos treze anos tive o primeiro encontro com os “marcados para morrer”. Foi na Transilvânia, Hungria, no fim da Segunda Guerra. Meu pai, meus parentes paternos, meus amigos de escola, todos com a estrela de Davi, visível, amarela, costurada na roupa, na altura do peito, para identificá-los como “marcados”, para agredi-los, incomodá-los e, posteriormente, deportá-los aos campos de extermínio. Sentia-se no ar que algo terrível estava para acontecer.

Em meio a esse clima de perplexidade, Gyuri me convidou para um passeio no parque. Foi uma confissão de amor. Só assim posso nomear seu desejo de andarmos juntos. Era algo que fazíamos guiados pela intuição. Tratava-se de um passeio somente para me dizer: “Frequentamos a mesma escola. Reparei em você. Você é especial. É bonita”.

Eu também o procurava, dia após dia, caminhando na rua, sempre na mesma hora. Sabia que o veria en passant. Sinto a emoção me apertar a garganta. Naquele dia de junho de 1944 decidimos nos encontrar e confessar nossos sentimentos.

O rapaz judeu estava marcado com a estrela amarela, o mogendovid. Ele tinha quinze anos, e eu, treze. Andamos emocionados, sem falar, olhando-nos furtivamente.

Sabia que algo importante estava acontecendo. Era o nascimento do amor. Sentia um formigamento na pele. No fim do passeio recebi um beijo tímido e silencioso, que apenas tocou minha boca. Lembro-me de ter ficado com os lábios ardendo por horas seguidas. Um amor, em circunstâncias tão especiais, a gente nunca esquece.
Ao sair com Gyuri, publicamente, sabia que estava desafiando o meu tempo.
Nunca mais o revi. Durante anos, guardei um retrato dele no medalhão que usava pendurado no pescoço.

1980
Quase quarenta anos depois, já vivendo no Brasil como fotógrafa engajada na questão indígena, acompanhei alguns médicos em expedições de socorro na área da saúde. A partir de 1973, durante os anos do “milagre brasileiro”, o território Yanomami na Amazônia brasileira foi invadido com a abertura de uma estrada. Com a mineração, a procura de ouro, diamantes, cassiterita, garimpos clandestinos, e não tão clandestinos, floresceram. Muitos índios foram vitimados, marcados por esses tempos negros.

Nosso modesto grupo de salvação — apenas dois médicos e eu — embrenhou-se na selva amazônica. O intuito era começar a organizar o trabalho na área da saúde. Uma de minhas atividades era fazer o registro, em fichas, das comunidades Yanomami. Para isso, pendurávamos uma placa com número no pescoço de cada índio: “vacinado”. Foi uma tentativa de salvação. Criamos uma nova identidade para eles, sem dúvida, um sistema alheio a sua cultura.

São as circunstâncias desse trabalho que pretendo mostrar por meio destas imagens feitas na época. Não se trata de justificar a marca colocada em seu peito, mas de explicitar que ela se refere a um terreno sensível, ambíguo, que pode suscitar constrangimento e dor. A mesma dor que senti por amor ao pisar na grama do parque, um amor impossível com Gyuri.

Ele morreu em Auschwitz naquele mesmo ano de 1944.

2008
É esse sentimento ambíguo que me leva, sessenta anos mais tarde, a transformar o simples registro dos Yanomami na condição de “gente” — marcada para viver — em obra que questiona o método de rotular seres para fins diversos.

Vejo hoje esse trabalho, esforço objetivo de ordenar e identificar uma população sob risco de extinção, como algo na fronteira de uma obra conceitual.

Data: dia 27 de março

Local:Centro da Cultura Judaica
Rua Oscar Freire, 2500 (ao lado da estação Sumaré do Metrô)
Tel. (11) 3065 4333 - Fax. (11) 3065 4355
E-mail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.

http://culturajudaica.uol.com.br/

O fim do mundo dos brancos na visão de Davi Kopenawa

O fim do mundo dos brancos na visão de Davi Kopenawa
[21/09/2010 16:42]

A partir de relatos do xamã e líder dos índios yanomami Davi Kopenawa, nasce a publicação A Queda do Céu, testemunho da cultura de um povo além de um manifesto xamânico e um grito de alerta vindo do coração da Amazônia.

 

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Com 800 páginas contendo dois cadernos com 16 fotos cada, o livro A queda do céu, Palavras de um xamã yanomami, será lançado no próximo 30 de setembro, na França, pela coleção Terre Humaine da editora Plon. Foi escrito a partir de relatos de Davi Kopenawa, recolhidos em língua yanomami pelo etnólogo Bruce Albert. Ambos são amigos há mais de 30 anos. O líder Yanomami relata sua história e suas meditações de xamã frente ao contato predador dos brancos com o qual seu povo teve de se defrontar depois dos anos 1960. Ao final, ele alerta em tom profético que quando a Amazônia sucumbir à devastação desenfreada e o último xamã morrer, o céu cairá sobre todos e será o fim do mundo.

O livro, cujos direitos de publicação no Brasil foram adquiridos pela Companhia das Letras que prevê lançamento no início de 2012, é composto de três partes: a primeira, "Tornar-se outro", retrata a vocação de xamã de Davi desde a infância até sua iniciação na idade adulta. Descreve a riqueza de um saber cosmológico secular adquirido graças ao uso de alucinógenos. A segunda parte, denominada “A fumaça do metal”, relata por meio de sua experiência pessoal, não raro dramática, a história do avanço dos brancos sobre a floresta – missionários, garimpeiros e estradeiros – e sua bagagem de epidemias, violência e destruição. Finalmente, a terceira parte, “A queda do céu”, refere-se à odisseia vivida por Davi ao denunciar a dizimação de seu povo nas viagens que fez à Europa e aos Estados Unidos. Entremeado por visões xamânicas e por meditações etnográficas sobre os brancos, o relato termina em um profético apelo que anuncia a morte dos xamãs e a “queda do céu” sobre aqueles que Davi chama de “o povo da mercadoria”.

"É um dos mais impressionantes testemunhos reflexivos jamais oferecidos por um pensador oriundo de uma tradição cultural indígena", avalia o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Fruto da colaboração exemplar entre dois intelectuais, um xamã ameríndio e um antropólogo europeu, o livro é uma prova eloquente do brilhantismo da imaginação conceitual indígena, de sua potência analítica e sua nobreza existencial. As reflexões de Davi Kopenawa, magistralmente traduzidas e cuidadosamente comentadas por Bruce Albert, constituem uma autêntica antropologia indígena, uma visão do homem e do mundo que não mostra qualquer condescendência para conosco, o "povo da mercadoria" - e suas razões são propriamente irrespondíveis. Kopenawa nos dá um aviso e faz uma profecia. Quem tiver juizo, que ouça."

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Bruce e Davi durante encontro em Boa Vista (RR)

Quem é Davi Kopenawa

Xamã e porta-voz dos índios Yanomami do Brasil , ele nasceu em 1956. em uma comunidade isolada do norte amazônico. Sua família foi morta por uma violenta epidemia de rubéola quando ele tinha 11anos. Vinte anos mais tarde milhares de garimpeiros em busca de ouro invadiram o território Yanomami e desta vez é todo o povo Yanomami que está ameaçado de extinção. Para impedir a tragédia anunciada, Davi se engajou em uma luta ao redor do mundo onde é reconhecido como uma dos maiores defensores da Amazônia e de seus primeiros habitantes. Em 1988, Davi recebeu o Global 500 Award das Nações Unidas e em 1989 o Right Livelihood Award considerado o prêmio Nobel alternativo. Foi condecorado em 1999 com a Ordem do Rio Branco pelo Presidente da República brasileiro e em 2008 recebeu uma menção honrosa especial do prestigiado Prêmio Bartolomé de Las Casas outorgada pelo governo espanhol por sua luta em defesa dos direitos dos povos autóctones das Américas.

Quem é Bruce Albert

Nasceu no Marrocos em 1952, é doutor em Antropologia pela Universidade de Paris X, diretor de pesquisa do IRD (Paris), e fervoroso defensor da cultura e dos direitos dos Yanomami do Brasil com os quais trabalha e visita regularmente desde 1975. A ONG CCPY, que ele co-fundou em 1978, no Brasil, auxiliou Davi em sua batalha de obter do governo brasileiro o reconhecimento legal do direito de ocupação exclusiva dos Yanomami sobre um território de floresta tropical maior que o de Portugal - a Terra Indígena Yanomami. Além de suas pesquisas etnográficas, Bruce continua a trabalhar em diversos projetos sanitários, educativos e ambientais implantados em território Yanomami.

Saiba mais lendo a entrevista que Bruce Albert fez com Davi Kopenawa em 1990.

ISA, Instituto Socioambiental.