ASSOCIAÇÃO DO POVO YE´KUANA DO BRASIL

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3ª Assembleia Geral do Povo Ye'kuana discute o futuro da Terra Indígena Yanomami

Pablo Albernaz

Combate ao garimpo e valorização dos conhecimentos tradicionais são os principais assuntos da 3ª Assembleia Geral da APYB.


A 3ª Assembleia Geral do Povo Ye’kuana (APYB) teve como tema os “20 anos da Terra Indígena Yanomami: Histórico de Luta e desafios para o futuro”. O encontro ocorreu entre os dias 3 e 9 de julho na aldeia Ye’kuana de Waikás, no rio Uraricuera. Estiveram presentes representantes da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Distrito Sanitário Yanomami-Ye’kuana (DSEI-SESAI), FUNAI e Instituto Indígena Insikiran (UFRR), além de lideranças da Associação Ye'kuana Kuyujani (Venezuela). O evento contou com o apoio da HAY, ISA e SESAI.


Garimpo

O presidente da APYB, Castro Costa da Silva, recebeu ao longo da assembleia denúncias sobre garimpos próximos à comunidade Ye’kuana de Waikás, local do encontro. As lideranças dessa aldeia reclamaram da ausência da FUNAI e do poder público na região, o que facilita a atividade de garimpo ilegal ao longo do rio Uraricuera.  Logo após a assembleia, a Polícia Federal deflagrou uma operação de combate ao garimpo na Terra Yanomami que resultou em diversas prisões e apreensões. A notícia pode ser lida abaixo:

http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=132645

Ao ficarem sabendo da operação Xawara, dezenas de garimpeiros que atuavam ao longo rio Uraricuera fugiram em diversos barcos para Boa Vista. Durante a fuga eles passaram pela comunidade de Waikás, gerando apreensão entre os indígenas, que avisaram a HAY sobre o ocorrido. Apesar da operação ter desencadeado a fuga dos garimpeiros, as lideranças de Waikás temem que a ausência de fiscalização favoreça o retorno do garimpo à região, após o término da operação.


20 anos de Homologação e Proteção da TIY

O presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY) Davi Kopenawa recordou sua luta pela Homologação e proteção da Terra Indígena Yanomami. Ele lembrou a invasão garimpeira que nos anos 80 trouxe diversos impactos ambientais, além de doenças e mortes para os Yanomami, que sofreram uma considerável baixa populacional à época da corrida do ouro. Davi convocou também os Ye’kuana a se unirem aos Yanomami para reivindicar junto ao governo o respeito aos seus direitos territoriais: “Os garimpeiros estão invadindo novamente nossas terras e voltando a poluir nossos rios, trazendo doenças e causando mal ao nosso povo. Nossos pajés sempre cuidaram da nossa terra, então vamos levantar, ficar de pé e reclamar nossos direitos”.

O presidente da Kuyujani, Asdrubal Sarmiento parabenizou Davi pela sua luta e relatou aos presentes os problemas enfrentados pelos Yanomami e Ye’kuana na Venezuela, país que não reconhece os direitos territoriais dos povos indígenas: “A demarcação e homologação da Terra Yanomami fez com que a floresta aqui se mantivesse mais protegida. Na Venezuela, nós indígenas sofremos com o elevado número de invasores em nosso território. O resultado disso é o alto índice de contaminação por mercúrio nos rios da bacia do Orenoco”. Recentemente a associação Kuyujani solicitou ao “Centro de Investigaciones Ecológicas de Venezuela” (CIEV) a realização de pesquisa para medir o índice de contaminação por mercúrio nos membros das 53 comunidades Ye’kuana e Sanumá (Yanomami) localizadas no rio Caura, na Venezuela. O resultado dessa pesquisa apontou altíssimo nível de contaminação por mercúrio entre os índios, alertando as lideranças da HAY e APYB sobre a importância de se acabar definitivamente com o garimpo na Terra Yanomami.  A reportagem sobre essa pesquisa pode ser lida abaixo:

http://www.clippingdigital.com/email/detalle.php?num=1461668040&alt=574%2C600%2C600%2C14616680402&cl=361


Saúde

Os representantes do DSEI Yanomami-Ye’kuana (DSEIY-SESAI) ouviram as demandas reivindicações das comunidades por melhorias no atendimento médico. As lideranças Ye’kuana e Yanomami debateram sobre as mudanças nas ações de saúde após a criação da SESAI, que em 2010 substituiu a Fundação de Saúde (FUNASA). Apesar de reconhecerem o esforço dos profissionais da saúde na busca por melhorias no atendimento, as comunidades reclamaram da ausência de medicamentos básicos nos postos de saúde das aldeias. Devido a esse problema muitas vezes os pacientes precisam ser removidos de aeronave até Boa Vista para a realizar procedimentos básicos que poderiam ser feitos em área, se houvessem remédios disponíveis, gerando altos custos com horas-voo. Apesar desses problemas, os representantes do DSEI salientaram os resultados positivos do trabalho da SESAI, demonstrados pelas estatísticas de diminuição do número de óbitos infantis, diminuição do número de ocorrência de casos de malária, dentre outras doenças. Além disso, apontaram a burocracia como uma das causas para o problema da falta de medicamentos. Por fim, ao serem questionados sobre o excesso de gastos com horas-voo, afirmaram que os recursos destinados à logística e à compra de medicamentos são diferentes, um não interferindo no outro, de modo que a ausência de medicamentos não se dá devido às  altas despesas com remoções de pacientes.

Valorização dos conhecimentos tradicionais

O destaque da Assembleia ficou por conta da presença dos historiadores Ye'kuana (Inchonkomo Watuna Edämo), Vicente Castro, de Waikás e Pablo Maldonado, da Venezuela. Eles são reconhecidos como dois dos maiores guardiões da cultura Ye’kuana. Durante os dias da assembleia os sábios contaram diversas narrativas de origem Ye’kuana (Watuna) e deram conselhos aos jovens e professores sobre como lidar com as demandas do mundo não indígena sem abandonar a cultura Ye’kuana. Vivente Castro pediu aos professores que eles ensinem na escola os conhecimentos tradicionais Ye'kuana, aproximando da sala de aula os velhos e os conhecedores. Além disso, Vicente e Pablo aconselharam os jovens a se interessarem pelos conhecimentos sagrados Ye’kuana, Watuna (mitologia), Ademi e A’chudi (cantos sagrados). Esses estudos exigem bastante dedicação dos iniciantes, e o processo de aprendizado se estende por anos. Os sábio se mostraram disponíveis para auxiliar os jovens ao longo dessa difícil iniciação.

Após o encerramento da assembleia, os Ye’kuana organizaram uma festa tradicional que há anos não era praticada em Waikás. A festa durou até o amanhecer, ocasião na qual os velhos e sábios ensinaram aos jovens danças, cantos e músicas instrumentais Ye’kuana.


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